São Paulo – Um levantamento da Associação Brasileira das Operadoras de Turismo (Braztoa) indica que parte significativa do mercado brasileiro decidiu rever estratégias para a próxima temporada de neve. Segundo o Boletim Braztoa 2025, 27% das empresas do setor diversificaram seu portfólio de destinos após os episódios de superlotação registrados no inverno de 2024, principalmente nos centros de esqui próximos a Santiago, no Chile.
A pesquisa ouviu operadoras associadas nos primeiros seis meses deste ano e buscou medir os reflexos da última temporada. O documento revela quatro comportamentos distintos entre os agentes: 12% notaram queda imediata na procura motivada pelas filas e falhas de infraestrutura vistas em 2024; 15% ouviram reclamações, mas não sentiram impacto expressivo nas vendas; 46% não detectaram qualquer alteração; e 27% confirmam que a demanda permanece elevada, mesmo diante das críticas.
Ainda de acordo com o estudo, a decisão de ampliar opções foi impulsionada não apenas pelo movimento interno das empresas, mas também pelo interesse dos próprios viajantes. Outros 27% dos entrevistados relataram que seus clientes passaram a solicitar espontaneamente destinos alternativos, em busca de experiências de neve menos concorridas.
Apesar desse cenário, 38% das operadoras mantêm foco nos mercados já consolidados, como o Chile e Bariloche, na Argentina, sem mudança relevante em suas estratégias. Para esse grupo, a vantagem competitiva continua sendo a familiaridade do público brasileiro com os serviços, a logística aérea relativamente simples e a oferta de infraestrutura turística robusta nesses locais.
No bloco que escolheu diversificar, os destaques são Chubut, Ushuaia e a região da Patagônia argentina. Esses destinos ganham força nas prateleiras das agências como forma de diluir a concentração de visitantes, distribuir a temporada por mais áreas andinas e oferecer paisagens diferentes aos brasileiros que já conhecem os resorts tradicionais. Além disso, o câmbio favorável em relação ao peso argentino aparece como fator adicional na hora da venda.
As operadoras que seguem priorizando os polos clássicos afirmam que o maior desafio será gerenciar a capacidade dos resorts para evitar a repetição de gargalos em 2025. Algumas reportam negociações com fornecedores locais para criar janelas de reserva mais espaçadas, reforçar o número de equipamentos disponíveis e incluir serviços de transporte interno que minimizem as filas observadas no último inverno.

Imagem: panrotas.com.br
Entre as empresas que se voltaram aos novos mercados, o planejamento envolve treinamento de equipes, ajustes na comunicação aos clientes e acordos com receptivos regionais para garantir padrão de qualidade semelhante ao encontrado nos destinos mais procurados. Agentes de viagem afirmam que ainda há necessidade de educar o turista sobre diferenças de clima, transporte e serviços nessas áreas menos exploradas.
O Boletim Braztoa 2025 também demonstra que, embora as experiências negativas em 2024 tenham levado parte do público a repensar férias na neve, o produto segue forte no portfólio. Na média das operadoras, a procura geral permanece estável e, em alguns casos, supera a registrada antes da pandemia. O interesse maior é atribuído ao retorno das operações aéreas regulares para a América do Sul, à flexibilização de requisitos sanitários e aos preços competitivos frente a destinos no Hemisfério Norte.
Para o segundo semestre, as empresas projetam intensificar campanhas de divulgação com ênfase em planejamento antecipado. O objetivo é reduzir picos abruptos de demanda no alto inverno, distribuir reservas ao longo da temporada e oferecer pacotes que combinem passeios urbanos, gastronomia e atividades na neve, diluindo a pressão sobre os meios de elevação e pistas de esqui.
As tendências apontadas pela Braztoa sugerem uma temporada 2025 marcada por maior segmentação de portfólio. Enquanto operadoras buscam assegurar fluidez nos resorts tradicionais, cresce a aposta em localidades emergentes que pretendem se consolidar como alternativas ao eixo Santiago-Bariloche. O desempenho desses novos roteiros será decisivo para mensurar a efetividade da diversificação e o grau de satisfação do viajante brasileiro com a próxima temporada de neve.




